Lição 9 — Eu não vejo nada como é agora.
- Alexandre Puglia
- May 27
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1. A Lição
"Eu não vejo nada como é agora."
Essa lição desafia gentilmente a maneira como achamos que compreendemos o mundo. Ela nos convida a reconhecer que o nosso olhar não é fresco nem claro — ele é moldado inteiramente pelo passado. Tudo o que pensamos que sabemos, tudo o que percebemos, já foi interpretado, filtrado, classificado pela memória. Assim, não vemos a verdade — vemos o passado.
O exercício de hoje é simples, mas profundo. Olhe ao redor e aplique a ideia:
“Eu não vejo este tapete como ele é agora.”
“Eu não vejo este rosto como ele é agora.”
“Eu não vejo este momento como ele é agora.”
A cada frase, soltamos o controle do que achamos que sabemos e abrimos espaço para uma visão real — uma visão que exige entrega.
2. Explicação
Essa lição se apoia em fundamentos apresentados logo no início do Texto. Duas ideias centrais ajudam a ancorar este ensinamento:
“Você só vê o passado.” (T-13.V.5)
O que chamamos de “presente” está coberto por interpretações. Pensamos que estamos vendo a realidade, mas na verdade estamos projetando nossos pensamentos passados sobre pessoas, objetos e situações. Por isso repetimos padrões — não estamos vendo o que é, estamos vendo o que foi.
“O mundo que você vê é uma ilusão de mundo. Deus não o criou, pois o que Ele cria deve ser eterno como Ele.” (T-11.VII.1:1-2)
A percepção nas mãos do ego se torna uma ferramenta de separação. Mas nas mãos do Espírito Santo, ela se torna uma ponte para a cura. O mundo é reinterpretado — não como um lugar de ameaça ou dor, mas como uma sala de aula, um espelho, um reflexo da mente que precisa de perdão.
Em João 5:6, antes de curar o homem no tanque de Betesda, Jesus faz uma pergunta simples, porém profunda:
“Você quer ser curado?”
Essa pergunta revela algo essencial — o milagre não é apenas sobre curar o corpo. Ele começa com a lembrança da verdade. Com desejo. Com rendição. Jesus não tratava os sintomas; ele revelava ilusões. A verdadeira cura é o retorno à conexão — com Deus, com o amor, com a fonte interior. O corpo se restaura como consequência de um realinhamento espiritual.
3. Integração
O caminho cristão também fala desse desvelar. Em 2 Coríntios 3:16–18, Paulo escreve:
“Mas sempre que alguém se volta para o Senhor, o véu é retirado.Ora, o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade.E todos nós, com o rosto descoberto, contemplando a glória do Senhor,somos transformados à sua imagem com glória cada vez maior,a qual vem do Senhor, que é o Espírito.”
O véu ao qual Paulo se refere é o mesmo que a Lição 9 expõe — esse filtro mental que nos impede de ver Deus, de nos ver, de ver o outro como ele é agora. Esse véu não é de tecido, mas de julgamento, trauma, e história. Ao retornarmos à consciência de Cristo, o véu se desfaz. Deixamos de usar o passado para interpretar o presente. E nesse movimento, a cura acontece.
Autores cristãos como Gregório de Nissa escreveram que a alma precisa purificar seus olhos interiores para ver Deus. Eles ensinaram que a visão espiritual se torna mais clara não por esforço, mas por entrega — pela remoção das camadas, uma a uma, através do amor.
4. Versículos Bíblicos e Novo Significado
João 5:6 – “Você quer ser curado?”
A pergunta de Jesus revela a verdade: a cura não é algo feito para nós — é uma lembrança daquilo que já está dentro de nós.
2 Coríntios 3:16–18 – “Sempre que alguém se volta para o Senhor, o véu é retirado...”
O que nos cega não é o mundo, mas a crença na separação. À medida que essa crença é desfeita, a luz de Deus volta a brilhar.
Mateus 9:5 – “O que é mais fácil? Dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou: ‘Levante-se e ande’?”
Jesus aponta para uma cura mais profunda. Perdão, lembrança e união não são separados da cura física — são a sua raiz.
Visão tradicional: Esses versículos foram frequentemente interpretados como demonstrações da autoridade divina de Jesus.Leitura mais profunda: Eles são convites ao despertar. Os milagres não são truques de mágica — são revelações. Provas de que a cura acontece quando o véu é removido. Quando a mente se lembra da sua união com Deus, o corpo segue essa lembrança.
5. Mensagem aos Amigos
Quando Jesus perguntou ao homem no tanque se ele queria ser curado, o homem não respondeu “sim”. Ele respondeu com todas as razões que a vida lhe deu para justificar por que ele ainda não havia sido curado. Ele culpou os outros — disse que ninguém o ajudava, que os outros sempre chegavam antes. Mas a pergunta de Jesus era a resposta. A doença daquele homem não vinha da ausência de ajuda. Vinha do fato de que ele viveu a vida inteira acreditando que era uma vítima — acreditando que a cura estava fora dele, que o poder estava nas mãos de outra pessoa.
E é aí que muitos de nós vivemos. Esperando. Culpando. Explicando. Esquecendo.
Jesus não precisou tocá-lo. Ele só precisou que ele visse. “Pela tua fé você foi curado” não quer dizer que o poder está no curador — quer dizer que a pessoa curada lembrou. O véu caiu. E de repente, ele se viu como realmente era: não quebrado, não perdido, não doente, mas uma extensão radiante de Deus. Uma máquina poderosa de cura projetada para a plenitude.
E agora, até a ciência está alcançando essa verdade. No campo da epigenética, o Dr. Bruce Lipton ensina que o ambiente em que acreditamos viver — e não o ambiente em si — altera o comportamento de nossas células. Isso significa que estresse, medo, culpa e vergonha não afetam apenas a mente — eles se manifestam fisicamente no corpo. Muitas doenças crônicas e inflamações são reflexo de uma mente que ainda vê o mundo por lentes de trauma e medo. Nossa biologia, no fim das contas, está respondendo ao nosso sistema de crenças.
Dr. Joe Dispenza e outros mostram, com exames clínicos e mapeamentos cerebrais, que pessoas que visualizam uma versão curada de si mesmas — que mentalmente “veem” um corpo alegre, livre, inteiro — começam a se transformar biologicamente. Suas células, sistemas imunológicos e química interna respondem a uma nova mensagem. O Curso em Milagres disse isso há décadas: “Eu não vejo nada como é agora.” E ao ver de forma nova, começamos a curar.
Durante muito tempo acreditamos que a religião precisava alcançar a ciência — mas agora vemos o contrário. A física quântica, a neurociência, a epigenética e inúmeros laboratórios ao redor do mundo estão comprovando o que os homens e mulheres de fé e visão mais profunda sempre souberam — que a cura vem da conexão, do sentido, do invisível. Livros como A Mente Desperta, de Lisa Miller, sugerem que a depressão não é um defeito — mas o clamor da alma — um chamado para voltar a Deus.
E esse é o coração do ministério de cura de Jesus. Antes de cada milagre, ele perguntava: Você quer ser curado? Ou dizia: Seus pecados estão perdoados. Ou ainda: O que é mais fácil — perdoar os pecados ou dizer “levante-se e ande”? Sempre levando a pessoa de volta à causa raiz. Sempre apontando não para o sintoma, mas para o véu — a crença na separação.
Essa é a doença. E a união é a cura.
À medida que a névoa se dissipa e passamos a ver com os olhos do Espírito, o ego volta para o seu lugar. A mente retorna à criação da verdade, não da ilusão. E o corpo a acompanha. Ele volta a ser o que foi criado para ser — não uma prisão de dor, mas um templo de luz.
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